Cyrano de Bergerac
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:53:00
Metes-me medo!
Os teus olhos brilham...

:53:02
- Queres?
- O quê?

:53:04
Dar-te-ia tanto prazer?
:53:14
Isso divertir-me-ia!
:53:17
É uma experiência
para um poeta.

:53:20
Queres completar-me e deixar
que eu te complete a ti?

:53:24
Tu avançarás, eu irei
na sombra a teu lado.

:53:26
Serei o teu espírito,
serás a minha beleza.

:53:27
Mas a carta que é preciso,
hoje, enviar-lhe!

:53:29
- Nunca eu poderei...
- Ei-la, a tua carta!

:53:31
Excepto a assinatura,
não lhe falta mais nada.

:53:33
Podes enviar-lha. Fica tranquilo.
Está bem escrita.

:53:36
Toma. Nós sempre trazemos
nos bolsos

:53:39
algumas cartas de amor...
filhas da nossa imaginação.

:53:41
Toma, verás. Toma-a!
Sou muito eloquente.

:53:49
- Servirá para Roxane?
- Ir-lhe-á como uma luva!

:53:52
A crença do amor-próprio
é tanta,

:53:55
que Roxane julgará
que foi escrito para ela.

:53:57
Meu amigo!
:54:03
Então?
:54:05
É muito, muito
surpreendente...

:54:17
Podemos agora falar
do teu nariz?

:54:26
“Esta carta de amor
que na minha cabeça fiz

:54:29
e refiz cem vezes,
:54:31
até ficar como está,
:54:32
e que pondo a minha alma
ao lado da folha...

:54:35
só tenho de a recopiar”...
:54:46
“Estou nas suas mãos,
este papel é a minha voz.

:54:52
Esta tinta, é o meu sangue,
:54:56
esta carta, sou eu...”

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