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Seu grandessíssimo estupor,
patife duma figa.
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Mas quem é...?
Quem pensa você que é?
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Eu entro aqui, você não me conhece,
nem à minha vida,
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e tem a lata, a indecência
de me fazer perguntas pessoais?
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- Acalme-se, minha senhora.
- Foda-se! Não me trate assim!
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Eu entro aqui
e entrego-lhe as receitas!
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Você investiga, faz telefonemas,
desconfia, pergunta-me coisas!
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Estou doente e cercada de doença
e você pergunta-me a minha vida!
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O que se passa? Já viu a morte
na sua cama, na sua casa?
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Que é da sua decência?
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E ainda me vem com perguntas
cretinas, "Qual é o problema?"
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Um broche!
Esse é que é o problema!
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E ainda me chama "minha senhora"!
Não tem vergonha?
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Não têm um pingo de vergonha.
Os dois!
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Porque não têm eles
o mesmo apelido?
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É que não têm o mesmo apelido.
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Eu sei e não consigo explicar
o facto,
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mas quer-me parecer que existe
algum problema entre eles,
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do estilo de não se conhecerem
lá muito bem.
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Como se já não falassem
muito um com o outro.
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Isto parece-lhe estranho?
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Só não sei porque me está
a ligar a mim.
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Não encontrei o número do Frank
nos papéis do Earl
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e ele já não atina muito.
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Quero dizer, ele está a morrer.
Está com um cancro terminal.
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- Que tipo de cancro?
- No cérebro e nos pulmões.
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A minha mãe
teve cancro da mama.
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- Sinto muito. Ela está bem?
<- Agora já está boa. >
1:11:38
- Ainda bem.
<- Mas pregou-nos um susto. >
1:11:40
- É uma doença infernal.
<- Lá isso é. >
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Desculpe, mas afinal
porque é que me ligou?
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Sei que isto parece uma parvoíce,
que me vai achar ridículo,
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que isto é
como aquela cena nos filmes
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em que um tipo tenta encontrar
o filho há muito desaparecido,
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mas é precisamente isso.
Sem tirar nem pôr.