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Sou eu aquele miúdo antipâtico
e sem dúvida importuno,
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de cara redonda e suja,
que diante dos candeeiros de rua
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ou porbaixo de grandes damas
tão bem iluminadas,
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ou diante de meninas
que parecem levitar,
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Ianca o insulto da sua cara
redonda e suja.
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Sou aquele amargo e solitârio
miúdo de sempre
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que te lança o insulto daquele
amargo miúdo de sempre e te avisa.
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se hipocritamente
me fazes festas na cabeça,
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posso aproveitar o momento
para te roubara carteira.
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Sou aquele miúdo de sempre,
ante o panorama de terroriminente,
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de lepra iminente,
de pulgas iminentes,
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de ofensas e do crime iminente.
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Sou aquele miúdo repelente
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que improvisa uma cama
com o caixote de cartão
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e espera, certo que tu
me acompanharâs.
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Reinaldo morreu em 1990.
Tinha 47 anos de idade.
Três anos depois o seu livro,
"Antes que Anoiteça", foi publicado.