:15:00
Desculpa interromper,
minha querida tia,
:15:03
mas já não aguento mais.
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Espero que não considere atrevimento
beijar a mão que tão bem toca Bach.
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Deixe-se disso.
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Onde desencantou
um entusiasmado tão antiquado?
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Acho admirável que se perpetue
a tradição dos recitais privados.
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Estão praticamente extintos.
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À morte dos grandes mestres,
segue-se a morte da sua música...
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Hoje em dia,
as pessoas só querem pop e rock.
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Tem razão.
Há poucas famílias como esta.
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Em tempos que já lá vão,
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gerações de cantores estafavam-se
a trabalhar os quartetos de Beethoven.
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Agora, na melhor das hipóteses,
os académicos batem o pé
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em sintonia com o compasso
paquidérmico de Bruckner!
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Desdenhar de Bruckner revela
a imaturidade da sua juventude,
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Monsieur... Klemmer?
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Mas diga-me,
que relação tem com a música
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para, sendo tão jovem,
falar dela com tanta certeza?
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A sua tia não disse
que está a estudar...?
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Estudo correntes fracas,
Sra Professora.
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Foi feita entre 1620 e 1630
por Marcel Pichler.
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De Hallein.
É uma peça rara.
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Toca-se...
:16:11
... como um violoncelo
e chama-se viola da gamba.
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Encontrei há uns tempos
um quadro espantoso
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que reproduz exactamente
este instrumento.
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E não me refiro
ao tipo de instrumento,
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refiro-me a esta mesma peça.
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O quadro representa um concerto
de violas da gamba
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na corte do Duque Auguste de Jeune
de Braunschweig Wolfenbüttel.
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Deseja tomar alguma coisa?
Quer que eu vá...
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É apaixonante!
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Olhe para eles...
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Parecem-lhe minimamente interes-
sados nos benefícios da loucura?
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Leu aquilo que disse Adorno
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a propósito da "Fantasia
em Dó Maior" de Schumann?
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Fala do seu crepúsculo.
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Não de Schumann antes de enlouquecer,
mas do Schumann antes desse.