:07:02
- Porque o fez? Por causa do Julian?
- Como sabe do Julian?
:07:06
Foi o que me chamou quando me beijava.
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Não o beijei. Você é que me beijou.
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- A propósito, não fez mais nada?
- Não houve muito tempo.
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Desculpe. Devia estar-lhe grata.
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- Como se chama?
- Igor Sullivan.
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- Igor Sullivan. Que invulgar.
- Inventei-o.
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- Porque escolheu lgor?
- Chamo-me lgor. Inventei o Sullivan.
:07:32
- É um bom nome para um escritor.
- É escritor?
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É o escritor!
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Que passa a noite a martelar
na máquina de escrever?
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Põe-me louca.
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Porque não se queixou?
Tê-la-ia conhecido mais cedo.
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- Ainda não me disse o seu nome.
- Toni Simmons.
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- Toni, que lhe fez o tal Julian?
- Nada.
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Deve ter feito algo. Foi-lhe infiel?
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- Bateu-lhe? É bêbedo? Um patife?
- Pior.
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É casado.
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Para toda a vida.
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Tem três filhos.
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Não sei porque lhe conto isto, como
se fosse uma conselheira sentimental.
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- É aquele o sacana do Julian?
- Ele não é um sacana.
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É dentista. Um óptimo dentista,
na Quinta Avenida.
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Com mulher e três filhos.
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Foi uma das coisas que me atraiu nele.
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- Gosta de homens casados?
- Gosto de honestidade.
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Toda a vida as pessoas me mentiram
e não o suporto.
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O Julian teve a decência
de avisar-me que tinha mulher e família.
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Estava apaixonada por ele,
por isso aceitei-o.
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No início, julguei que seria
um caso alegre e despreocupado.
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Depois vieram todas as noites
em que ele não podia vir.
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E esta noite ligou a cancelar.
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- Era o nosso aniversário.
- Aniversário? De quê?
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Conhecemo-nos na Stereo Heaven,
há um ano. A loja de discos onde trabalho.
:08:58
Já lá estive. Nunca reparei em si.