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sobre o capítulo dos moinhos.
- Capítulo treze.
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Porque, quando os atacam,
muitas vezes acontece...
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Eu ataco porventura pessoas
que giram com o vento?
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Que um moinho com
os seus enormes braços
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carregados de velas
vos lance na lama!...
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Ou antes nas estrelas!
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- Enfim, convirás que...
- Claro que sim, é o meu vício!
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Desagradar é o meu prazer,
gosto que me detestem.
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Se abandonasses um pouco
a tua alma de mosqueteiro,
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a fortuna e a glória.
- E que seria necessário fazer?
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Procurar um protector poderoso,
arranjar um patrono?
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E como uma hera obscura
que se agarra a um tronco.
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E faz dele um tutor,
lambendo-lhe a casca.
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Trepar manhosamente
em vez de subir pela força?
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Não, obrigado.
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Dedicar, como todos o fazem,
versos aos homens de finanças?
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Transformar-se em palhaço
na esperança ignóbil de ver,
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nos lábios de um ministro
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nascer um sorriso, enfim,
que não seja sinistro?
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Não, obrigado.
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Almoçar, todos os dias,
como um sapo?
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Ter um ventre usado
por rastejar?
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Uma pele que imediatamente
nos joelhos se suja?
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Fazer exercícios de flexão
dorsal?
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Não, obrigado!
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Não descobrir talento
senão nas pilecas?
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Ser aterrorizado
por vagas bisbilhotices?
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E dizer sempre:
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Oxalá apareça nas páginas
do Mercure de France?
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Não, obrigado!
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Calcular, ter medo,
estar pálido...
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Gostar mais de fazer uma visita
do que um poema?
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Redigir pedidos,
fazer-se apresentar?
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Não, obrigado!
Não, obrigado!
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Não, obrigado!...
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Mas cantar, sonhar, rir,
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caminhar, estar só,
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ser livre,
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ter olhos para ver bem,
voz vibrante,
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pôr o chapéu à banda,
quando assim agrada,
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bater-se por tudo
e por nada.
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ou fazer um verso!
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Trabalhar sem preocupação
de glória ou de fortuna.