:44:00
- Sois orgulhoso.
- É verdade, já reparastes?
:44:03
Olha, Cyrano!
A estranha caça de penas
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que arranjámos esta manhã,
no cais!
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- Os chapéus de fugitivos!...
- Os restos das vítimas!
:44:12
Quem pagou a estes patifes,
deve estar hoje cheio de raiva.
:44:16
- Sabe-se quem é?
- Sou eu.
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Tinha-os encarregado
de castigar,
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tarefa que não faria
eu próprio,
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um versejador bêbedo.
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- Grande autor de canções!
- Vós deste-vos ao luxo...
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Senhor, quereis devolvê-los
aos vossos amigos?
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Vós deste-vos ao luxo de contrariar
os meus projectos.
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- Projectos de assassinar?
- O insolente!
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Embainhem a espada!
Chega! Vamos!
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Saiam daqui! Saiam!
:44:53
Senhor, uma pergunta.
Lestes o Dom Quixote?
:44:57
Li-o, e tiro o chapéu
diante desse louco.
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Devíeis, então, meditar um pouco
se não vos desagrada,
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sobre o capítulo dos moinhos.
- Capítulo treze.
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Porque, quando os atacam,
muitas vezes acontece...
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Eu ataco porventura pessoas
que giram com o vento?
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Que um moinho com
os seus enormes braços
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carregados de velas
vos lance na lama!...
:45:12
Ou antes nas estrelas!
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- Enfim, convirás que...
- Claro que sim, é o meu vício!
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Desagradar é o meu prazer,
gosto que me detestem.
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Se abandonasses um pouco
a tua alma de mosqueteiro,
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a fortuna e a glória.
- E que seria necessário fazer?
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Procurar um protector poderoso,
arranjar um patrono?
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E como uma hera obscura
que se agarra a um tronco.
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E faz dele um tutor,
lambendo-lhe a casca.
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Trepar manhosamente
em vez de subir pela força?
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Não, obrigado.
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Dedicar, como todos o fazem,
versos aos homens de finanças?
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Transformar-se em palhaço
na esperança ignóbil de ver,
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nos lábios de um ministro
:45:53
nascer um sorriso, enfim,
que não seja sinistro?
:45:56
Não, obrigado.
:45:57
Almoçar, todos os dias,
como um sapo?
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Ter um ventre usado
por rastejar?