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Trabalhava para o Papa.
Ganhava bem.
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E por que é que o Papa o chamou?
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Porque o Papa procurava o melhor
para pintar o tecto da igreja em Roma.
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- Não parece grande emprego, Padre.
- Para o Miguel ngelo era.
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Ele ia ganhar mais dinheiro
do que tivera em toda a vida
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e podia pagar aos agiotas
que perseguiam o pai.
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O que era o pai dele?
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Era um tipo medíocre,
desonesto.
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Vigarizava com dinheiro, cabras,
ovelhas, galinhas, o que pudesse.
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- Galinhas?
- Sabem o que aconteceu?
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Ele pintou um tecto
que jamais será esquecido.
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Pintou-o como que tocado
pela mão de Deus.
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- E pagou as dívidas?
- Todas.
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Quanto tempo é que ele levou
a pintar o tecto?
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Cerca de nove anos.
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- Nove anos?
- Que grande tecto!
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Um porto-riquenho pintou a minha casa
toda em dois dias, e era coxo.
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Não sei o que vou fazer de vocês.
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Arranje-nos que pintar e nós...
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Sabem o que ele pintou?
A Capela Sistina!
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- A Capela "Sixteenth" (16ª)?
- Sistina.
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Quem pintou as outras quinze?
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INVERNO DE 1967
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Os acontecimentos exteriores
pouco significavam.
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Numa sociedade que mudava
radicalmente hora a hora,
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víamos as imagens
todas as noites na televisão.
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Jovens activistas diziam como iam
mudar a nossa vida e o mundo.
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Mas enquanto gritavam
as suas palavras de ordem,
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eu e os meus amigos acompanhávamos
enterros de jovens de Hell's Kitchen
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que tinham morrido no Vietname.
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Encarávamos com cepticismo
os rostos na televisão.
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Aqueles das classes abastadas,
protegidos pelo dinheiro.
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Um crescente exército de feministas
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marchava pelo país
exigindo igualdade.
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Contudo, as nossas mães
continuavam a cuidar de homens
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que as maltratavam
física e mentalmente.
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Estas coisas não deixavam marca
em mim e nos meus amigos.
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Podiam ter-se passado
noutro país, noutro século.