Sleepers
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:55:00
- Não, comprei-os.
- No dia do jogo?

:55:02
Só nos resta viver com isto
e falar dificulta mais as coisas.

:55:02
Fui ã bilheteira uma semana antes.
:55:05
Além dos acusados,
alguém sabia que ia ao jogo?

:55:07
Portanto, é melhor não falar.
A verdade fica connosco.

:55:08
Penso que não.
:55:10
Estava alguém consigo
quando comprou os bilhetes?

:55:12
- Ninguém o viu comprá-los?
- Exacto.

:55:15
Quero conseguir dormir uma noite
:55:16
- Pediu um recibo?
- Não, não pedi.

:55:18
Pagou com cheque?
Mastercard, Visa?

:55:18
sem pensar quem entra no meu quarto
e o que vai acontecer-me

:55:21
Não, paguei com dinheiro.
Normalmente pago com dinheiro.

:55:25
Se eu conseguir isso,
então serei feliz.

:55:26
Gosta muito dos rapazes
da sua paróquia, não gosta?

:55:29
Muito.
:55:31
E não há nada que não fizesse
por eles, não é verdade?

:55:32
Um dia, John... prometo.
:55:34
Não hesitaria fazertudo
o que estivesse ao meu alcance.

:55:37
Como um pai
olhando por um dos seus filhos.

:55:41
- Mais ou menos isso, sim.
- Então, como um bom pai,

:55:45
quereria protegê-los de algo
que não deviam ter feito.

:55:48
Tanto como quereria fazê-lo de algo
de que alguém os acusasse.

:55:50
Eu estava na minha última hora
de recluso em Wilkinson.

:55:52
- Como um crime?
- Sim, como um crime.

:55:54
Tinha recebido quatro cópias
da ordem de soltura,

:55:57
Deixe-me ver se entendo...
Ninguém sabia que ia ao jogo,

:55:57
a última recordação
do meu tempo em Wilkinson.

:56:00
ninguém o viu no jogo,
ninguém o viu comprar os bilhetes.

:56:01
Não tinha ouvido a chave
rodar na fechadura

:56:03
Nada prova que os comprou,
nem tem um recibo.

:56:03
nem o estalido do ferrolho.
:56:06
Não é assim?
:56:07
Devias estar a dormir.
:56:09
- Sim, exactamente.
- Então como é que nós sabemos

:56:09
Só queria despedir-me.
Vimos todos despedir-nos.

:56:13
que o senhor e os dois acusados
estavam no jogo na noite do crime?

:56:16
Eu disse-lhe na cara dele...
:56:18
"Não me interessa que me pague,
não trabalho essas horas."

:56:18
Eu digo-lho como testemunha
e como padre. Estávamos no jogo.

:56:21
Pediste-lhe o pagamento?
:56:22
Como padre. E um padre
não mentiria, pois não?

:56:23
- Pedi, pois!
- Eu pedi e não me pagaram.

:56:26
Um padre com os canhotos
dos bilhetes não precisaria mentir.

:56:26
Venho três dias mais cedo,
e pagam-me? Não!

:56:30
Uma parte de todos nós
ficou lá naquela noite.

:56:31
Eu guardo sempre os canhotos.
:56:33
Uma noite
que nunca mais esquecerei,

:56:36
a noite de 1 de Junho de 1968,
o Verão do amor.

:56:37
Quer vê-los?
:56:42
A minha última noite
no Reformatório de Wilkinson.

:56:45
Por que é que guarda
sempre os canhotos, Padre?

:56:48
Porque nunca se sabe quando alguém
quer mais do que a nossa palavra.

:56:53
Já alguém tinha duvidado
da sua palavra antes?

:56:55
Não. Nunca.
Mas há uma primeira vez para tudo.


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