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E o que a película capturaria
se nos filmasse neste momento...
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seria Deus nesta mesa,
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Deus em nós, com o aspecto
que temos neste momento...
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a dizer e a pensar aquilo
em que estamos a pensar...
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porque todos somos
manifestação de Deus.
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O filme seria assim um registo de Deus
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ou o rosto sempre em mutação
desse mesmo Deus.
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Tens aí um mosquito.
Queres que eu to...?
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- Mataste-o.
- Matei?
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E toda esta treta de Hollywood
pegou no filme...
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e converteu-o num meio
de contar histórias...
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pegando em livros ou histórias...
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e arranjando, a partir deles...
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aqueles guiões em que, depois,
tentam encaixar alguém.
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Mas isso é ridículo.
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Não se devia basear num guião.
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Devia basear-se nas pessoas,
nas coisas.
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E, bem... nesse sentido,
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quase que até estão bem
com essa coisa das estrelas...
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... porque tem a ver com essas pessoas...
- Exacto.
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... e não com a história.
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O Truffaut sempre disse que
os melhores filmes não se fazem...
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Os melhores guiões não fazem
os melhores filmes...
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porque têm algo de literário, de coisa
narrativa de que passas por ser escravo.
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Os melhores filmes são os que não estão
amarrados a esta concepção.
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Por isso... bem, não sei...
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Toda essa treta narrativa me parece...
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É óbvio que há narratividade
no cinema porque está num tempo
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do mesmo modo que há
narratividade na música.
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Não pensas na história da canção
para depois a ires compor.
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Ela tem de ter origem no momento.
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Tal como o filme.
É apenas aquele momento, sagrado.
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Tal como este,
também é sagrado.
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Mas nós passamos-lhe ao lado
como se o não fosse.
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Passamos ao lado, como se
não houvesse qualquer...
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... qualquer momento sagrado.
- Exacto. É isso.
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E o filme deixa-nos ver isso.
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Podemos pará-lo ali para dizer,
"Ah, este momento. Sagrado."
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Ou "sagrado, sagrado, sagrado,"
a cada momento.
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Mas quem conseguirá viver assim?
Quem poderá ir por aí, "Uau, sagrado"?
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Porque se eu fosse a ver-te como sagrado...
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Não sei. Talvez nem fosse capaz de falar.
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Bem, estarias no momento.
O momento é sagrado, não é?
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Sim, abrir-me-ia.
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Fitaria o teu olhar e choraria...