:57:03
Os melhores filmes são os que não estão
amarrados a esta concepção.
:57:07
Por isso... bem, não sei...
:57:10
Toda essa treta narrativa me parece...
:57:12
É óbvio que há narratividade
no cinema porque está num tempo
:57:14
do mesmo modo que há
narratividade na música.
:57:16
Não pensas na história da canção
para depois a ires compor.
:57:19
Ela tem de ter origem no momento.
:57:21
Tal como o filme.
É apenas aquele momento, sagrado.
:57:25
Tal como este,
também é sagrado.
:57:27
Mas nós passamos-lhe ao lado
como se o não fosse.
:57:29
Passamos ao lado, como se
não houvesse qualquer...
:57:31
... qualquer momento sagrado.
- Exacto. É isso.
:57:34
E o filme deixa-nos ver isso.
:57:36
Podemos pará-lo ali para dizer,
"Ah, este momento. Sagrado."
:57:40
Ou "sagrado, sagrado, sagrado,"
a cada momento.
:57:42
Mas quem conseguirá viver assim?
Quem poderá ir por aí, "Uau, sagrado"?
:57:45
Porque se eu fosse a ver-te como sagrado...
:57:48
Não sei. Talvez nem fosse capaz de falar.
:57:50
Bem, estarias no momento.
O momento é sagrado, não é?
:57:54
Sim, abrir-me-ia.
:57:56
Fitaria o teu olhar e choraria...
:58:00
e sentiria todas essas coisas,
e isso não seria correcto.
:58:03
Provocar-te-ia algum desconforto.
:58:05
Também poderias desatar a rir.
Porque havias de começar a chorar?
:58:09
Bem, talvez...
não sei.
:58:11
É que sou mais de chorar.
:58:13
Muito bem...
:58:17
Vamos fazê-lo agora.
Vamos ter um momento sagrado.
:58:45
- É tudo uma questão de camadas, não é?
- Claro.
:58:47
Há o momento sagrado
e depois há a consciência
:58:50
de o tentar ter...
:58:52
do mesmo modo que um filme
é o momento actual a acontecer de facto,
:58:55
mas com a personagem a pretender
estar numa realidade diferente.
:58:58
São estas camadas todas.