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Não.
Na verdade,
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há algo de que me lembrarei
até ao dia da minha morte.
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Em 1991, precisamente antes da minha
unidade ter voado até ao Kuwait,
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para limpar o que restava
da resistência.
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Eu e um jovem camarada,
chamado Eddie Oswald,
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decidimos fazer uma tatuagem
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para comemorar a nossa primeira
viagem ao deserto.
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Recordo-me dele. Era um gajo rijo, com
nariz partido e um olho torto, certo?
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Esse mesmo. Homem bem-parecido.
Um garanhão com as mulheres.
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Bem... Eu e o Eddie
bebemos uns copos.
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Muitos copos.
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E fomos até uma loja de tatuagens.
Tatuei um Ratazana do Deserto,
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e o Eddie, sendo quem é,
queria algo com mais significado.
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Sendo que ainda era crente,
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disse que a sua alma
pertencia a Deus,
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mas a sua carne
já não tinha salvação,
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e só Satanás podia
salvar a sua pele.
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Por isso, tatuou um diabo
sorridente no meio do cu.
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Seis dias depois,
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enquanto fazíamos um reconhecimento
da fronteira iraquiana,
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o pobre Eddie activou
uma mina anti-tanque.
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Todos vimos.
Ele ia na frente do pelotão.
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Um clarão ofuscante
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e uma explosão ensurdecedora. Quando
nos levantámos, o Eddie estava...
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... morto.
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Apenas pedaços do seu corpo.
Era o que restava dele.
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Um grande círculo vermelho.
Cem metros.
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Digo-vos uma coisa.
Isto põe as coisas em perspectiva.
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Quando temos de apanhar um amigo
com uma pá e metê-lo num saco.
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Em todo o caso, o que nos lixava
a cabeça naquele dia,
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era reconhecer partes do corpo.
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Um pedaço de orelha, dedo do pé,
nariz, um dente.