1:11:00
- Não!
- Como... não?
1:11:01
Deixai que a aproveitemos,
1:11:04
esta ocasião
que se nos oferece...
1:11:06
para nos podermos falar
docemente sem nos vermos.
1:11:08
- Sem nos vermos?
- Mas claro, é encantador.
1:11:11
Apenas adivinhamos
a presença um do outro.
1:11:13
Vós vêdes a negrura de um longo
manto que se arrasta.
1:11:15
Eu apercebo-me da brancura
de um vestido de Verão.
1:11:18
Não sou mais que uma sombra,
e vós apenas uma claridade.
1:11:23
E é como se vos falasse
pela primeira vez.
1:11:26
É verdade que tendes uma voz
completamente diferente.
1:11:28
Sim, totalmente diferente,
porque na noite que me protege,
1:11:31
ouso finalmente ser eu mesmo
e ouso...
1:11:37
Onde ia?
1:11:39
Não sei... tudo isto,
perdoai a minha emoção,
1:11:43
é tão delicioso,
é tão novo para mim!
1:11:46
- Tão novo?
- Tão novo...
1:11:48
O ser sincero:
1:11:50
o medo de ser escarnecido,
aperta-me sempre o coração...
1:11:53
- Escarnecido porquê?
- Por um arrebatamento!...
1:11:57
Sim, o meu coração tem sempre
o espírito a cobri-lo, por pudor.
1:12:00
O espírito!
Odeio-o no amor!
1:12:03
É um crime, quando se ama,
prolongar muito essa esgrima!
1:12:08
Chegará fatalmente
o momento,
1:12:11
e lamento os que a ele
não acedem,
1:12:14
em que sentimos que
um amor nobre em nós existe,
1:12:17
que todas as belas palavras ditas
tornam tristes!
1:12:21
Pois bem! Se chegou
esse momento para nós,
1:12:23
que palavras me direis?
1:12:26
Todas que me ocorrerem,
vou lançá-las, aos molhos,
1:12:30
sem as juntar em ramalhetes.
Amo-vos, asfixio.
1:12:33
Amo-te, sou louco,
não posso mais, é excessivo!
1:12:35
E o teu nome no meu coração
ecoa como um soluço.
1:12:38
De ti, lembro-me de tudo,
e tudo amei:
1:12:40
sei que no ano passado,
um dia, a 12 de Maio,
1:12:43
para saíres de manhã
mudaste de penteado!
1:12:46
Um sol me ofuscou,
era a tua cabeleira!
1:12:49
Compreendes agora?
Enfim, dás-te conta?
1:12:52
Sentes um pouco a minha alma
que sobe no escuro?
1:12:56
De facto, esta noite,
é muito bela, muito suave!